quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cássia Eller -Admirável Gado Novo

Vocês que fazem parte dessa massa que passa nos
projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que
receber

E ter que demonstrar sua coragem à margem do que possa
parecer
E ver que toda essa engrenagem já sente a ferrugem lhe
comer

Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz
Lá fora faz um tempo confortável, a vigilância cuida
do normal
Os automóveis ouvem a notícia, os homens a publicam no
jornal
E correm através da madrugada a única velhice que
chegou
Demoram-se na beira da estrada e passam a contar o que
sobrou
Ê, ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz
O povo foge da ignorância apesar de viver tão perto
dela
E sonham com melhores tempos idos, contemplam essa
vida numa cela
Esperam nova possibilidade de verem esse mundo se
acabar
A arca de Noé, o dirigível, não voam nem se pode
flutuar.
Devemos refletir sobre a sociedade em que vivemos!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Caetano Veloso Um Índio

Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante

E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante


Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias

Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá


Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico

Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio